27 juillet 2006

Uma história cheia de defeitos


Primeiro eu crio um produto que vive dando defeitos.

Mas, como tenho um bom serviço de marketing consigo vender bastante. Bastante mesmo.

Diante de uma gritaria geral, sou obrigado a colocar em prática um serviço de atendimento ao consumidor. Você chama o SAC e eu entrego uma nova peça do produto que é capaz de consertar o defeito.

A cada defeito novo, uma nova peça é enviada pelo meu SAC. Mas como meu produto tem um problema de concepção original, haja peça nova, já perdi até a conta. O importante é que, como a maioria das pessoas não podem mais usar outra coisa que o meu produto, elas continuam o comprando mesmo sabedo-se que está cheio de defeitos.

Sem falar dos meus acessórios opcionais que, diga-se de passagem, outros fazem melhor que eu e quase de graça. Esses acessórios continuam vendendo como nunca. Não preciso dizer que eles têm também lá seus defeitinhos. Coisa boba, uma boa embalagem e todo mundo compra.

O interessante desses acessorios é que 90% das pessoas que os usam, usam apenas 10% das
possibilidades deles (felizemente para mim, pois senão teriam mais defeitos ainda). Mas, à cada nova versão dos acessórios, mudo a pintura, coloco um monte de coisas inúteis, encho de besteiras, isso me permite aumentar o prêço de venda e conservar o mercado sem muito trabalho, pois as pessoas pensam que se trata de um novo produto melhor, mais eficiente, mas na essência continua o mesmo de sempre.

Além do mais, meu produto é sensivel aos fatores externos, um tipo de ferrugem que tem tendencia a corroder a máquina fazendo ela parar de vez em quando. Aqui ainda, o meu serviço de marketing joga pesado, e diz que o êrro é dos outros. Sabem, o meu produto é muito popular e alguns têm inveja do meu sucesso...

O interessante é que as pessoas parecem não perceber que é justamente um dos acessórios não opcional do produto, que permite esses fatores externos de estragar a máquina. O estrago as vêzes é tão grande que o proprietário do produto tem de recondicionar tudo, mas nesse caso eu não pago nada, senão seria minha ruína.

Estou na quarta ou quinta versão do produto. Fiz alguns produtos paralelos, mas mesmo eu achei que tinha defeitos demais e logo os abandonei.

Essa ultima versão, quando anunciei, disse a todos que era a versão à prova de defeitos, todo mundo acreditou. Ainda mais que a versão anterior do produto era tão ruim, que quase destruiu minha imagem. Quem não estaria de acordo de mudar alguima coisa que não funcionava por
outra aonde se prometia o paraíso na terra? Até aonde iremos nós? dizia eu. E todo mundo foi.

A ultima novidade da minha equipe de marketing (êta equipe boa danada!), é que vou tirar partido das fraquezas congênitas do meu produto, para que todo mundo confie a manutenção e proteção do produto para nós e durmam tranquilos, afinal somente eu sei aonde os defeitos estão. Vocês não acham?

N.B.: qualquer semelhança com um produto industrial existente no mercado é mera concidência, esse texto é um puro exercício de ficção...

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